terça-feira, 22 de julho de 2008

Desliga. É trote.

Há uns anos atrás, recebi um trote bem feio. As meninas eram nenês. Desde então, o telefone de casa tem o serviço de BINA. Dias desse, recebi um telefonema a cobrar. Nem olhei o número, já chamei minha empregada. As filhas dela sempre ligam a cobrar. Ela atendeu na sala. Continuei trabalhando no computador. As meninas vieram me chamar correndo. Eu tinha que ir para a sala, porque a Márcia estava chorando ao telefone. Fui lá. Ela estava desesperada. Tremia. Peguei a extensão do telefone. Ouvi uma voz chorosa de menina: ’Mãe, faz o que ele pede. Por favor’. Aí , entrou a voz do cara, com um forte sotaque carioca:’Então, quanto você vai me darrr ? Ou prefere que eu apague a sua filha?’ Olhei o número da chamada. Era de um celular do Rio. Na sala, ela continuava a chorar e a pedir que o cara tivesse clemência. Explicou que era empregada doméstica. Não tinha dinheiro. E eu falava: ’Desliga o telefone. É trote!’. Ela, chorando: ’Ele sabe o nome da minha filha, Kátia! Eu ouvi a voz dela! Me ajuda’. Aí, eu tive uma luz. Pedi o número do celular da filha dela. E ela, tão desesperada que estava, não lembrava o número. Peguei o aparelho celular dela, mexi na agenda e achei. Liguei do meu celular para a filha dela:’Oi, é a Kátia. Está tudo bem ?’, perguntei, ’Tudo’, ela respondeu desconfiada, ’Espera aí. Fala com a sua mãe!’, e passei o telefone para a mãe dela, que só então, desligou o telefone da sala. Falou com a filha, ficou um pouco mais calma e ordenou:’Não sai de casa, hein! Você e sua irmã fiquem ai dentro. Tranca tudo!’
-‘Mas, é um trote. O cara deve estar ligando lá da favela de Bangu! Pode ficar calma, não vai acontecer nada com as suas filhas’, falei para ela
-‘Mas, ele sabe o nome da minha filha ! Como pode?’, ela me perguntou
-‘Presta atenção. Faz parte da tática deles. Quando você ouviu a voz da menina chorando, imediatamente você disse o nome da sua filha. Entendeu?’
-´Será, Kátia? Sei não. Acho que eu não falei...’
Eu olhei para as minhas filhas que haviam assistido a tudo, assustadas. Mas, que estavam bem seguras ali. Na minha frente. Eu olhei para a moça. Ainda meio trêmula. E pensei que eu ia fazer que nem ela. Ia ficar agarrada no telefone. Só largaria quando tivesse certeza de ter salvo minhas meninas.
Decidi ligar na Telefônica e pedir que trocassem nosso número. Avisei meu marido. Ele concordou. Mas, aí, comecei a ficar com raiva. Esse cara ia fazer com que eu fosse ficar sem o meu número de telefone, de anos, e ainda ia me fazer ter um trabalhão de avisar a todos do nosso novo número? Fui me sentindo lesada. 'Ah, não! Vou continuar com esse número', decidi. Liguei para o 190. Expliquei o acontecido e disse que eu tinha o número do celular que originara a chamada. A moça me explicou que eu tinha que fazer um BO na delegacia perto da minha casa. Podia ser por telefone, mesmo. Liguei na delegacia. Expliquei o caso.
-'A senhora tem que vir pessoalmente fazer o BO'.
-'Mas, moça, eu tenho o número do celular do cara. Não interessa para vocês? Não dá para fazer pelo telefone mesmo? A pessoa do 190 me informou...', insisti
-'Não. Tem que vir aqui pessoalmente!',categórica
Não fui. O cara deve estar assustando outras famílias por aí.

1 comentários:

Anônimo terça-feira, 22 julho, 2008  

Está cada dia mais difícil viver em muitos lugares do mundo!! A Vó até hoje jura que não falou meu nome quando ligaram para ela, coitada!! E lembra o stress que deu?! Você tá certa em não trocar seu telefone...Eles logo desistem e partem para outra vítima...Temos que viver com certa dignidade, dentro do possível...E polícia, sei não...Confio desconfiando!!

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