segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Da morte

Poucos dias depois que o meu pai morreu, fui buscar a certidão de óbito no cartório. Não sei bem o porquê de eu ter sido incumbida desta tarefa, provavelmente por causa da minha flexibilidade de horário. Eu fui, mas não queria. Dirigi tensa até o destino. Chegando lá, lembro que entreguei o papelzinho para a moça e ela pediu para eu aguardar. Foi o que fiz. Chorando. Só as lágrimas escorriam, eu não emitia nenhum som. A não ser que olhassem para o meu rosto diretamente, ninguém perceberia minha tristeza. E foi o que a moça fez, quando me entregou a certidão. Ela me olhou e meio que ficou embaraçada, acho, com as minhas lágrimas. Não me disse nada. Talvez seja cena comum na sua labuta diária. Mas, também, mesmo que tivesse tentado me confortar, creio que não teria conseguido. Porque, naquele momento, era oficial a minha orfandade paterna. E não sei o porquê disto ter me deixado tão mal. Era como se, enquanto aquele papel não se materializasse, tudo pudesse, em algum momento, ser revertido. Então, com a certidão em mãos, eu sabia que, tudo era definitivo.

 



Isso veio a minha lembrança hoje, porque já se fazem necessários os procedimentos para a exumação. E eu, fraca que sou, não queria ter nenhuma ciência disso, saber de nada. Meu irmão, solidário, se prontificou a assumir essa tarefa, juntamente com a minha tia. No entanto, alguns documentos meus são necessários, então, já estou ciente do que não gostaria de estar. E eu mesma me pergunto quem sou eu para querer escolher com qual tarefa dos assuntos vida/morte quero lidar ? Quem me deu esse salvo-conduto ? Ou porquê eu teria algum tipo de passe especial ? Não tenho. Não fossem meu irmão e minha tia, teria eu mesma que fazer isso. Então, aos dois, meus sinceros agradecimentos.

2 comentários:

tia solange segunda-feira, 23 novembro, 2009  

minha filha sobrinha querida, nada a agradecer. A vida nos ensina a ser solidária e talvez outras coisas eu não possa fazer e farão por mim.
Mas, o fato é que estou meio assombrada com a morte por não sou pessoa tida como de fé,isso quero resolver.
Penso que o inconsciente nos coloca questões espantosas. Fiz maxixe e seu pai passou a me habitar com a presença que ele sempre teve.
Perdi outros irmãos, minha irmã querida cuja morte deu rumo a minha vida. Depois o meu irmão que por ser predileto da mãe também marcou a minha vida para sempre. Mas eles estão presentes e a morte está no passado.
Esse meu irmão embora me habite, a morte dele é presente ... algo que não disse ... e sem querer mais nada dizer fico por aqui.

tati terça-feira, 24 novembro, 2009  

Poxa! Ainda bem que eu tenho todos vcs! Muito obrigada, pois eu nao iria conseguir fazer nada disso!

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