terça-feira, 20 de abril de 2010

Ponto final

No sábado, lá no Encontro, meu irmão me disse que na segunda-feira estaria em SP e que me ligaria. Tinha um assunto para resolver por essas bandas. Achei que a gente ia se encontrar, almoçar juntos, talvez. Já havia até esquecido, quando ele me ligou por volta da hora do almoço. Disse que já estava na estrada, rumo à cidade onde ele mora. Não entendi nada. Mas, então, ele me contou, delicadamente, a razão pela qual esteve aqui. Tinha vindo fazer a exumação. Do meu pai. Disse que, apesar disso estar longe de ser agradável, não havia sido desesperador como ele (ou seria eu?) supunha. Entre eu e meu irmão, há coisas que não precisam ser verbalizadas, porque, apesar de divergimos em muitos assuntos, conhecemos muito bem um ao outro (e eu vou ser eternamente grata, por falta de uma palavra melhor, a ele por ter ficado à frente desta tarefa). Enquanto ele falava, a sensação de tristeza vinha. Nem sei explicar. Não que a exumação em si altere o quadro de que meu pai está morto. Não é isso. Mas, é como se, simbolicamente, a etapa tivesse sido finalizada, terminada, acabada. Como quando, no jurídico, não cabem mais recursos. Assim como quando se termina um livro e, depois do ponto final, não existe mais nada. Resta o vazio. E, apesar disso ou por causa disso, continuo pensando no meu pai. Não são pensamentos tristes. São lembranças, palavras, vislumbres de cenas passadas... Sei que depois do ponto final do livro, posso voltar à primeira página e ler tudo novamente. No caso do meu pai, posso relembrar, mas, a cada dia que passa, as páginas estão mais amareladas, a resolução das cenas diminuiu um pouco mais, as lembranças vão ficando esmaecidas e o som, distorcido. Isso me deixa meio agoniada. E não há, infelizmente, nenhum processo externo que resolva isso. É o ponto final.

3 comentários:

tati terça-feira, 20 abril, 2010  

só pra dizer que chorei com esse post...

Obrigada San!

Amo vcs irmãos!!

Alessandro quinta-feira, 22 abril, 2010  

Meninas,

Na verdade vocês não tem que me agradecer..Era minha obrigação, como filho e irmão. Tentei apenas proteger e poupar vocês, só isso. Mesmo que da única certeza que toda a humanidade possui, que é a morte.

E lá, ela estava na sua forma mais definida, verdadeira e triste.

Mas lembrem do pai pelos bons momentos, porque como disse Fernando Pessoa: - "Morrer é apenas não ser visto. Morrer é a curva da estrada."

cleison barros quinta-feira, 22 abril, 2010  

O Pai de vcs era ótimo e sempre vai estar vivo na minha memória. Na verdade eu sou um seguidor Valdemiriano, pela sua inteligência, irreverência e outras cossitas mais. No caso do meu Pai é uma coisa meio espiritual: sonho sempre como ele.
Na maioria das vezes estamos reformando minha casa ou automóveis e ele sempre dando ordens. ai eu digo: Pai até mortoou em sonho vc me dá dura...rrrsss...ai ele dá risada e o sonho acaba. Pode?

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