quinta-feira, 9 de outubro de 2008

9 de Outubro

2005. Domingão ensolarado. Íamos a uma festa de aniversário no final da tarde. As meninas desceram para brincar um pouquinho. Dali a pouco, ouço o choro de uma delas. Pensei: 'Xi, caiu naquelas pedrinhas do chão.' Resolvi descer para ver quem havia ralado o joelho. Estava já na porta, toca o interfone. Eu atendi e já fui falando: 'Estou descendo'. Desliguei. Não cheguei a ouvir o que o porteiro tinha para dizer. No térreo, a Sabrina estava me esperando na porta do elevador:

-'Mãe, a Camila foi atropelada!!!!', ela me disse

Eu saí correndo. Ela estava na casa do zelador, sentada, bebendo água e chorando. Olhei para ela, não vi sangue, nada. Fiquei tão aliviada! Dei um abraço nela e passei a mão na perna dela:

-‘Cami, não foi nada. Foi só um susto’, eu falei

Aí, alguém me disse para olhar atrás da perna. Se fosse um filme, tinha entrado um comercial. Mas, infelizmente, era real. E com a minha filha. No nosso prédio.

Olhei e vi que era sério. Peguei-a no colo e subi para o apartamento:

-‘A Camila foi atropelada! Vamos para o hospital’, gritei para o meu marido, que assistia televisão.

Fomos correndo. Limparam os ferimentos, fizeram radiografia. Fratura na tíbia constatada, ficamos esperando pelo ortopedista. A Camila parecia mais calma. Eu, não.

Um aperto no coração. E eu ficava pensando o porquê de eu ter resolvido trocar a roupa que ela estava usando antes de descer. Talvez se eu tivesse deixado ela com a calça comprida, a meia e o tênis... Mas, estava muito quente e eu perguntei se ela queria pôr um shorts e uma sandália. Ela disse que sim. Coloquei um conjuntinho bonitinho, de saia e blusa, além da sandália. Talvez a calça e o tênis tivessem protegido a perna e o pé... Talvez, não... Nunca vou saber. Mas o remorso continua.

E se eu não tivesse deixado elas descerem ? Tínhamos um aniversário naquela tarde. Mas, eu deixei. E se ela não tivesse ido na casa da amiguinha ? Mas, ela foi. E se o carro não estivesse correndo acima do permitido ? Mas, estava.

Meus pensamentos são interrompidos pelo ortopedista. Ele disse que, como a perna tinha inchado muito, não daria para colocar o gesso. Iriam colocar uma tala e a Camila ficaria internada para acompanhamento. E ficamos. Por uma semana. Até o gesso poder ser colocado.

E a Camila surpreendeu. Sofreu muito. Porque, além da fratura, havia um ferimento grande, profundo (pensaram até que ia ser necessário enxerto...). E toda vez que tinha que limpar esse machucado, era uma tortura. Mas, ela, apesar de toda a dor, de todo o medo, foi uma guerreira. Aprendeu a lidar com a cadeira de rodas, a tomar banho de gato, a ir nas festinhas e não poder correr. Suportou a frustração de ter que adiar a retirada do gesso. Já sem ele, foi, inúmeras vezes, à praia, de biquini e meião, até o joelho, para proteger o ferimento, que não podia pegar sol para não manchar a pele. As pessoas olhavam, comentavam, chegavam a vir nos perguntar o motivo de tal 'vestimenta'. E ela, nem aí. Além de tudo isso, nunca demonstrou nenhum rancor em relação ao vizinho que a atroplelou.

No entanto, o trauma ficou (e não podia ser diferente), pois ela, lembra, todos os anos, da data do acidente. E hoje, faz três anos. E, se, em 2005, só havia lamentos, atualmente, só há agradecimentos. Porque há tantos 'ses': E se não tivesse sido a perna e sim a cabeça ou o peito ? E se fosse dia de semana e nós não estivéssemos em casa ? E se nós não tivéssemos como ir para um bom hospital ? E se nós não tivéssemos condições de pagar os honorários médicos ? E se nós não tivéssemos amigos ? E se não pudéssemos contar com a família ?

Por tudo isso, somos, hoje, só agradecimentos. Por termos uma filha tão especial, por termos tantos amigos, que sem nem percebermos como, já estavam do nosso lado, de termos uma família que sempre nos apóia e nos dá suporte ...







1 comentários:

Anônimo terça-feira, 04 novembro, 2008  

Pois é! Me lembro bem..Eu estava em São Sebastião e a noite resolvi ligar para dar um alô...

- Oi Cauê, tudo bem? É o San...Cadê a Kátia?
- Está no hospital com meu pai...A camila foi atropelada - me disse ele calmamente...

Eu quase surtei, muitas perguntas e depois de aliviado em saber que ela estava "bem", e não o pior, chorei de raiva...Muita raiva...

Queria ir a SP quebar a cara do vizinho imbecil!! Fomos na outra semana e o Juca, o Marcelo e o porteiro me convenceram a não revidar ...Minha vontade era tocar o apartamento e partir para porrada...Ainda bem que não fiz isso, só teria piorado as coisas e o trauma da Cami....

Até hoje fico com raiva sobre este assunto, sabe, porque que foi acontecer isso etc...Mas às vezes temos que jogar com a Polyana o jogo do contente e agradecer pois hoje ele está bem, feliz e dando piruetas lindas...Até colocaram um obstáculo e sinalização no prédio (antes tarde do que nunca)!!

Às vezes temos que aprender com os erros e não ficar achando os culpados por eles existirem...

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