A escolinha, onde minha irmã estudou do maternal ao jardim, virou um prédio, ainda em construção. A lojinha de discos, onde eu costumava comprar meus LPs e, mais tarde, CDs, já não existe mais. A casa de esfihas, daquelas bem tradicionais, não os fast-food atuais, também fechou. Ali, eu e meu irmão, almoçávamos/jantávamos, às vezes, nos finais de semana. No lugar da escolinha de natação, na qual minha irmã, quase bebê, se recusou a ter aulas, existe um colégio. Hoje precisei ir na faculdade onde me formei, a uma quadra do apartamento onde morei, dos 13 aos 24 anos, quando casei. Embora não houvesse necessidade, fiz questão de passar na rua do ‘nosso’ prédio. Um flashback instantâneo aconteceu: minha irmã nasceu ali, meu primeiro namorado foi de lá, meu aniversário de quinze anos, a primeira chave de casa, meu irmão engolindo a agulha, vários reveillons comemorados com toda a família, minhas primeiras ‘baladas’, a cara pintada ao passar no vestibular, meu irmão no exército, meu futuro marido sendo ‘entrevistado-massacrado’ pelo meu pai, minhas primeiras madrugadas em claro estudando para a faculdade, chuva de arroz, almoço de casamento, primeira comunhão da minha irmã … Lembranças de anos passaram em segundos. Senti uma certa melancolia. Imediatamente lembrei de uma música do Caetano, da época em que ele estava exilado em Londres: A little more blue. O dia cinza de hoje também deve ter contribuído para essa minha sensação.
E esse estado melancólico me levou ao meu pai. Após sua morte, eu ligava para o telefone da casa dele, só para ouvir sua voz, gravada na secretária eletrônica. Eu fazia isso consciente do quão inconsequente era esse meu ato. Mas, eu não queria esquecer o timbre e a entonação de sua voz. Fiz isso por um curto espaço de tempo. E agora, que não tenho mais a gravação para recorrer, não estou bem certa de lembrar exatamente como era o som de sua voz. "But today, but today, but today, i don't know why, I feel a little more blue than then (C.V.)"
Se meu pai fosse vivo, creio que ele seria um leitor assíduo e um eloquente comentarista deste meu blog. Mas, pode ser só impressão.